terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Hábito Nacional (Luis F. Veríssimo)

Hábito Nacional (Luis F. Veríssimo)
Por uma destas coincidências fatais, várias personalidades brasileiras, entre civis e militares, estão no avião que começa a cair. Não há possibilidade de se salvarem. O avião se espatifará - e, levando-se em consideração o caráter dos seus passageiros, "espatifar" é o termo apropriado - no chão.
Nos poucos instantes que lhes restam de vida, todos rezam, confessam seus pecados, em versões resumidas, e entregam sua alma à providência divina. O avião se espatifa no chão. São Pedro os recebe de cara amarrada. O porta-voz do grupo se adianta e, já esperando o pior, começa a explicar quem são e de onde vêm. São Pedro interrompe com um gesto irritado.
- Eu sei, eu sei.
Aponta para uns formulários em cima de sua mesa e diz:
- Recebemos suas confissões e seus pedidos de clemência e entrada no céu.
O porta-voz engole em seco e pergunta:
- E... então?
São Pedro não responde. Olha em torno, examinando a cara dos suplicantes. Aponta para cada um e pede que se identifiquem pelo crime.
- Torturador.
- Minha financeira estourou.
- Enganei milhares.
- Corrupto. Menti para o povo.
- Sabe a bomba, aquela? Fui o responsável.
- Roubei.
- Me locupletei.
- Matei.
Etcétera. São Pedro sacode a cabeça. Diz:
- Seus requerimentos passaram pela Comissão de Perdão rejeitados por unanimidade. Passaram pelo Painel de Admissões, mera formalidade, e foram rejeitados por unanimidade.
Mas como nós, mais que ninguém, temos que ser justos, para dar o exemplo examinamos os requerimentos também na Câmara Alta, da qual eu faço parte. Uma maioria esmagadora votou contra. Houve só um voto a favor. Infelizmente, era o voto mais importante.
- Você quer dizer...
- É. Ele. Neste caso, anulam-se todos os pareceres em contrário e prevalece a
vontade soberana d'Ele. Isto aqui ainda é o Reino dos Céus.
- E nós podemos entrar?
São Pedro suspira.
- Podem. Se dependesse de mim, iam direto para o Inferno. Mas... Todos entram pelo Portão do Paraíso, dando risadas e se congratulando. Um querubim que assistia à cena vem pedir explicações a São Pedro.
- Mas como é que o Todo-Poderoso não castiga essa gente? E São Pedro, desanimado:
- Sabe como é, Brasileiro...

1) Sabemos que “o Todo-Poderoso” representa Deus, mas que metaforicamente aqui na Terra simboliza:
(   ) o governo     (   ) os ricos     (   ) advogados      (  ) juízes

2) Explique qual a opinião de São Pedro em relação à decisão tomada por Deus?



3) O texto acima faz uma crítica:
(   ) às pessoas que se julgam dignas de entrar no céu.
(   ) ao povo brasileiro no geral.
(   ) à justiça brasileira que acaba absorvendo pessoas que mereciam punição.
(   ) às pessoas que exploram os pobres.

4) Faça a análise sintática da seguinte oração: “Menti para o povo”.



5) Analise: “São Pedro interrompe com um gesto irritado” e responda:
a) Qual é o objeto:


b) O predicativo “irritado” é do sujeito ou do objeto?


c) Qual o tipo de predicado dessa oração?


6) O autor, ao descrever os passageiros, revela qual a sua visão perante os brasileiros. Que visão é essa? Comente, revelando sua opinião sobre isso.

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